“
Quero é recuperar, saber, reinventar a criança que eu fui. Pode parecer
uma coisa um pouco tonta: um senhor nesta idade estar a pensar na
criança que foi. Mas eu acho que o pai da pessoa que eu sou é essa
criança que eu fui.”
Público
, Lisboa, 14 de outubro de 1998. In:
José Saramago nas Suas Palavras
O ano de 2016 foi bastante emblemático para a primeira infância e para nós,
da Fundação. A sanção do Marco Legal da Primeira Infância, em março,
“carimbou” a responsabilidade que temos sobre os primeiros anos de vida de
todo e qualquer cidadão, fortalecendo e qualificando os direitos da
criança. Discussões como a ampliação da licença-paternidade ou o direito da
gestante.
Outro ponto alto foi a realização de um projeto incrível, o documentário “O
Começo da Vida”, sonho antigo que se materializou no filme. Queríamos
comunicar a importância dos primeiros anos à sociedade de uma maneira que
marcasse, “incomodasse”, causasse compaixão, mas, sobretudo, trouxesse o
tema à consciência e ao dia a dia e, com ele, o sentido de
corresponsabilidade. Conseguimos fazer o filme com parceiros sensacionais
como o Instituto Alana e a Fundação Bernard Van Leer, que muito agregaram e
nos ajudaram a impulsionar o projeto a voos mais altos. Outro parceiro, o
UNICEF, nos ajudou a ir “ao infinito e além*” com o filme sendo exibido em
mais de 70 países só em 2016.
No entanto, por mais bem-sucedido que seja, um filme sozinho não garante
mudanças de comportamento. É preciso que pessoas engajadas mobilizem outras
para fomentar ações e investimentos na causa. Foi o que aconteceu quando
lideranças, profissionais e pais se tornaram embaixadores do filme nas suas
redes, disseminando a importância da primeira infância.
O Programa de Liderança Executiva do Núcleo Ciência pela Infância (NCPI),
que apoia líderes, gestores e formadores de opinião, em 2016, mais uma vez,
colocou 46 decisores brasileiros em contato com as descobertas da ciência
para que essas norteiem a concretização de boas práticas ou mesmo, e não
menos importante, disseminem a causa pelo País.
Estampar a importância do investimento na primeira infância na capa da
revista Exame ou, ainda, comunicá-la a milhões de lares brasileiros por
meio do programa Bem-Estar, da Rede Globo, foram dois resultados concretos
dessa “onda” de envolvimento em torno de uma mesma causa, ambas produzidas
por ex-alunos do curso.
Outro importante resultado desse
advocacy
junto a lideranças foi o
lançamento do programa federal “Criança Feliz”, cujo objetivo é apoiar
estados e municípios a potencializar seus programas de primeira infância
com a implementação de visitas domiciliares a famílias em situação de
vulnerabilidade, iniciativa também protagonizada por um ex-idealizador e
participante do Programa de Liderança Executiva, o atual Ministro do
Desenvolvimento Social e Agrário, Sr. Osmar Terra.
A realização do “VI Simpósio Internacional de Desenvolvimento da Primeira
Infância”, pela primeira vez fora de São Paulo, teve em Recife, PE, recorde
de público e de participação de lideranças públicas. Conseguimos ampliar o
debate, defendendo a ideia de olhar a primeira infância como prioridade
absoluta de governos, instituições e sociedade, seguindo a tendência
mundial que reconhece na criança o potencial maior para uma sociedade
melhor.
O ano também foi de reflexão sobre nossas relações internas e externas,
estratégias e objetivos.
Fizemos um trabalho de escuta com a equipe e refletimos sobre as
competências necessárias no time para a nova estratégia que começou a ser
implementada ao longo do ano e que traduz o olhar da Fundação sobre a causa
a médio e longo prazos.
Trouxemos novos parceiros e fortalecemos antigas alianças. Esse
amadurecimento não tem fim, pois a Fundação precisa acompanhar a sociedade
e suas mudanças, respondendo aos novos desafios em tempo real.
Tudo para que a voz conquistada pela primeira infância continue sendo
ouvida e acolhida. Essa voz que se espelha nas ações realizadas em 2016,
com importantes e decisivos parceiros, e que compartilhamos com você, neste
relatório.
A mesma voz que nos faz repensar a criança que fomos e os adultos que nos tornamos. Os cidadãos em que nos transformamos e a maneira que acolhemos a infância brasileira. Que cada criança possa um dia dizer que “o pai da pessoa que eu sou é essa criança que eu fui”: uma criança feliz, íntegra e saudável porque pode usufruir todos os seus direitos. Essas crianças serão os adultos que irão ajudar o Brasil a ser um país menos desigual, o país em que todos nós tenhamos orgulho de viver.
Boa leitura!
Eduardo de C. Queiroz
Diretor-Presidente
*Buzz Lightyear – Toy Story 2012
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